Acredito que a importância crescente que os problemas derivados do exercício da sexualidade estão adquirindo na população jovem está sinalizando claramente a necessidade de aumentar o acesso dos jovens a serviços especificamente dedicados a atendê-los, que estejam capacitados para dar atendimento integral aos problemas de saúde reprodutiva, incluindo contracepção e prevenção de DST e aids. Trago a apenas a titulo de informacao alguns metodos anticoncepcionais , lembrando que nada substitui uma consulta e avaliacao com o seu medico.
Métodos baseados na percepção da fertilidade ou de abstinência periódica
As estatísticas baseadas em estudos populacionais mostram que esses métodos têm uma eficácia média/baixa, o que os faria pouco recomendáveis para as adolescentes que, em geral, precisam de alta eficácia, porque a gravidez representa um risco importante. Por outro lado, estudos clínicos bem controlados mostram que esses métodos, usados corretamente, alcançam uma eficácia aceitável, comparável à dos métodos de barreira.
Além disso, o conhecimento da fisiologia reprodutiva e da maneira adequada de usar esses métodos, pode ser muito útil como complemento para o uso dos métodos de barreira.
Mantendo o conceito básico da livre escolha, o uso desses métodos deveria ser ensinado a todas(os) adolescentes, porque: a) bem utilizados podem ter uma eficácia aceitável, b) podem ser um excelente método auxiliar para aumentar a eficácia dos métodos de barreira, c) por falta de acesso aos serviços, é comum que a mulher inicie a vida sexual sem anticoncepção, sendo a abstinência periódica o único recurso disponível.
Métodos hormonais.
Não há, em geral, restrições ao uso dos anticoncepcionais hormonais na adolescência. Respeitando o direito de escolha livre e informada, as adolescentes podem utilizar estes métodos desde a menarca. As últimas revisões científicas mostram que não há fundamentos para restringir seu uso nos primeiros seis meses ou dois anos após a menarca, como alguns autores preconizaram em algumas publicações. Da mesma forma que nas mulheres adultas, devem ser respeitados os critérios de elegibilidade médica. Entretanto, a OMS recomenda restringir o uso de injetáveis apenas de progestogênio (Depo-provera) antes dos 16 anos, pelo possível risco de diminuir a calcificação óssea e colocar a mulher em risco de osteoporose após a menopausa. As que optarem pelo uso da Depo-provera, deverão ser advertidas de que o retorno da fertilidade depois de suspender o seu uso pode ser mais demorado, mas não leva a esterilidade definitiva.
Da mesma forma que nas mulheres adultas, devem ser evitados os métodos combinados com altas doses de estrogênios.
Métodos de barreira
O preservativo masculino e feminino são os dois únicos métodos que oferecem dupla proteção contra a gravidez e DST/aids. A eficácia deles como anticoncepcionais depende muito da maneira como são usados (técnica e consistência de uso). Estudos clínicos com o preservativo masculino mostram que a eficácia pode chegar a uma taxa de falha de 2-4%, semelhante à da pílula. Os outros métodos de barreira (diafragma, capuz cervical, espermicidas) podem dar alguma proteção contra DIP (doença inflamatória pélvica) e DST, mas não protegem efetivamente contra a Aids. Sua eficácia anticoncepcional, em uso perfeito, pode igualar-se à dos preservativos mas, em uso rotineiro, esses métodos apresentam uma taxa de falha maior.
Atualmente, estão sendo realizadas pesquisas para desenvolver microbicidas, com ou sem efeito anticoncepcional, que tenham efeito contra o HIV e bactérias causadoras de DST. Estes poderiam ser métodos ideais para a mulher proteger-se de DST e aids.
Dispositivo intrauterino (DIU)
Respeitando a escolha livre e os critérios de elegibilidade médica, o DIU com cobre pode ser uma boa alternativa para adolescentes. Os estudos epidemiológicos da OMS mostraram que o risco de infecção pélvica com DIU depende mais da técnica de inserção e da adequada seleção da usuária, do que da idade. A taxa de gravidez do DIU em adolescentes, embora maior que nas adultas, é menor que a taxa de gravidez observada com a pílula em uso rotineiro.
Métodos cirúrgicos permanentes
Os métodos cirúrgicos são de uso excepcional na adolescência. Só estariam justificados em casos de existência de condições clínicas ou genéticas que façam com que seja imperativo evitar a gravidez permanentemente. Esses casos são cada vez mais excepcionais. É importante lembrar que há anticoncepcionais reversíveis de alta eficácia, que oferecem proteção contraceptiva no mesmo nível dos métodos cirúrgicos.
Contracepção de emergência
É um método muito importante para os adolescentes, porque eles pertencem a um grupo que tem maior risco de ter relações sexuais desprotegidas. Só os métodos hormonais de contracepção de emergência, combinados ou só de progestogênios, estão aprovados no Brasil. Os serviços deveriam oferecer informação sobre esses métodos, enfatizando que devem ser usados só para emergências, de forma esporádica, antes de 72 horas depois do coito desprotegido e que não existem contraindicações médicas para seu uso. Recentemente foi registrado no país o primeiro produto específico para contracepção de emergência, apenas de progestogênio, muito efetivo e com menos efeitos secundários que os métodos combinados.
www.saude.gov.br
Entendo que a capacitação dos provedores de serviços para adolescentes deverá incluir, além de aspectos técnicos, treinamento em técnicas de comunicação. Todos os serviços para adolescentes deveriam ter um forte componente educativo, com a participação dos próprios adolescentes e deveriam incluir a perspectiva de gênero de maneira explícita.
Trabalhar o gênero na adolescência aparece como uma estratégia fundamental para diminuir o atual desequilíbrio de poder entre os sexos, que é um fator que tem interferido negativamente na qualidade da saúde sexual e reprodutiva. Finalmente, mas não menos importante, consideramos que qualquer esforço para melhorar o atendimento em saúde reprodutiva/planejamento familiar dos adolescentes deve incluir a participação da comunidade, especialmente dos professores e dos pais. Isto poderia contribuir para evitar que os jovens recebam informações discordantes e conflitantes, especialmente mensagens de censura moral e social, provenientes de distintos segmentos da sociedade.
Paz e Luz !!!
Judi Menezes
"Que a eterna luz do sol te ilumine, que todo o amor te envolva, e a luz verdadeira, no teu interior, guie o teu caminho para casa." (Bênção Sufi)
12 de dez. de 2010
11 de dez. de 2010
Anticoncepção na Adolescência
Para os adultos, nos quais se incluem os profissionais de saúde, tem sido difícil aceitar que os adolescentes têm vida sexual ativa e que eles precisam não só de informações, mas também de acesso aos métodos anticoncepcionais. Às vezes, sem perceber, dificulta-se o uso dos métodos ao se perpetuarem mitos e preconceitos em relação aos mesmos ou pelo temor dos profissionais de dar anticoncepcionais a menores de idade. O desafio atual é garantir que as(os) adolescentes tenham o aceso aos serviços antes mesmo do início de sua vida sexual, e oferecer-lhes um atendimento integral , que inclua também seus aspectos psicológicos e sociais. De nada adianta fazer de conta que nada esta acontecendo. Os adolescentes, cada dia mais cedo, despertam ou sao induzidos a despertar para o sexo. Quero que fique claro que nao estou defendendo que o(a) adolescente sai por ai fazendo sexo deliberadamente. Mas, caso isso aconteca acredito que sera muito melhor que ele(a) estejam seguros-fisica e psicologicamente- e bem informados sobre o inicio de sua vida sexual. Portanto, estou comecando a publicar uma serie de artigos medicos, acessiveis a todos sobre a referida tematica.
Sugiro que os(as) adolescentes e os adultos interessados acessem o site :http://www.adolescencia.org.br/adolescencia, pois o mesmo traz informacoes sobre diversas tematicas (inclusive sexualidade) com linguagem e visual bem "transados" , com artigos serios, escritos por profissionais competentes, e esclarecedores.
Aspectos médicos da anticoncepção na adolescência.
Do ponto de vista médico, a anticoncepção na adolescência não apresenta grandes desafios. Nesse grupo, como em qualquer faixa etária, a escolha do método anticoncepcional deve ser livre e informada, respeitando os critérios de elegibilidade médica. Os adolescentes, homens e mulheres, quando iniciam a vida sexual, em geral estão em boas condições de saúde, sendo excepcional ter de lidar com situações em que os critérios de elegibilidade médica limitem ou dificultem a escolha do método anticoncepcional. É importante salientar que, contrariando preconceitos fortemente enraizados na cultura médica, mas sem fundamento científico, não há nenhum método anticoncepcional que não possa ser utilizado na adolescência depois da menarca. Os critérios de elegibilidade médica da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicados em 1996, baseados numa ampla revisão da literatura, estabeleceram que a idade não deve constituir restrição ao uso de qualquer método.
Da mesma forma que em qualquer outra faixa etária, para que haja escolha livre e informada, a usuária potencial deve conhecer as características dos métodos que incluem: a eficácia, mecanismo de ação, modo de uso, os principais efeitos colaterais e como lidar com eles. Tendo em conta essa premissa básica, analisaremos brevemente o uso dos diversos métodos na adolescência. Antes, porém, da revisão por método, é necessário revisar o conceito de dupla proteção.
A incidência crescente de DST e a epidemia de aids fazem com que seja fundamental, em todas as faixas etárias, especialmente na adolescência, insistir no conceito da dupla proteção. Os estudos sobre a incidência e modo de transmissão das DST e aids têm confirmado que o sexo feminino apresenta uma vulnerabilidade maior às doenças, o que se soma ao fato de que são as mulheres que tem de carregar as conseqüências da gravidez indesejada. A transmissão do vírus HIV e das DST é mais eficiente de homem para mulher que no sentido contrário, e as conseqüências das DST nas mulheres são maiores que nos homens. Isso justifica que as mulheres, incluindo as adolescentes, utilizem dupla proteção sempre que o parceiro não ofereça garantia de não portar uma DST ou o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).
A dupla proteção, contra a gravidez indesejada e DST/aids, pode ser feita, basicamente de duas maneiras:
a) usar um método de eficácia alta ou média (pílula, injetável, DIU) e preservativo em todas as relações, ou pelo menos naquelas em que exista risco de contrair DST ou aids;
b) usar camisinha como dupla proteção, tendo como retaguarda a contracepção de emergência, para utilizar quando o preservativo se rompe ou sai do lugar, ou nos casos em que, por esquecimento ou qualquer outra razão, não é usado.
As mulheres devem receber informações muito completas e claras sobre a dupla proteção e, quando escolham a segunda opção, devem ser instruídas em detalhes sobre como utilizar a contracepção de emergência.
O fato da maior vulnerabilidade da mulher não isenta o homem da necessidade de proteger-se contra essas doenças, além da responsabilidade para com a sua parceira, de evitar o risco de transmitir-lhe uma DST ou aids.
A cada ano cerca de um milhão de adolescentes engravidam no Brasil. Hospitais desenvolvem programas para adolescentes entre 10 e 19 anos, responsáveis por 26% dos partos no SUS. Hoje no Brasil, uma em cada 10 mulheres de 15 a 19 anos já tem dois filhos. Na faixa dos 19 anos, uma em três já tem um filho ou está grávida. Pesquisa feita com adolescentes no Hospital da Clínicas – SP, detectou que uma parte expressiva queria mesmo engravidar.
Fonte: http://www.adolescencia.org.br/adolescencia/default.asp
Espero que essas informacoes sejam uteis e sirvam para iniciar uma conversa sincera, aberta e respeitosa com a familia que, no meu entendimento, deve ser a principal educadora desses jovens.
Onde muitas adolescentes grávidas vêem sua vida mudar completamente e não se sentem preparadas para isso. Não é nada fácil, de uma hora para outra, deixar o papel de filha para se transformar em mãe. Outra questão é a relação com os pais. Nem sempre eles são tão compreensivos. A “culpa” por ter traído a confiança dos pais – seja real ou não – e o medo de perder o afeto dos dois fazem com que a adolescente se sinta desamparada e cheia de conflitos. Outras vezes, o receio é a perda do namorado. Com medo das responsabilidades e de ver o seu futuro ameaçado por um bebê que não estava no programa, alguns garotos acham melhor pular fora e deixar todo o encargo e responsabilidade por conta da menina. Muitas adolescentes acham que, só pelo fato de estarem grávidas, vão perder todos os encantos. No fundo, existe dificuldade em se reconhecer naquele corpo que está ganhando novas formas. Por mais forte que seja a adolescente, é muito difícil não se deixar abalar psicologicamente.
Considerando a complexidade dos processos envolvidos na gestação da adolescente, humildemente, arrisco dizer que o atendimento de saúde deve ter uma perspectiva de trabalho visando um atendimento mais integrado e global, permitindo lidar com as variáveis de risco dessa população: os fatores bio-psico-sociais.
PAZ E LUZ!!
Judi Menezes
Assinar:
Postagens (Atom)