15 de dez. de 2011

Vocação para a felicidade


 


"Não serei o poeta de um mundo caduco." Não escreverei versos chorosos, cantando tristezas infinitas,
amores impossíveis, saudades dolorosas,
paixões trágicas e não correspondidas.

Tenho a vocação para a felicidade.
Ser feliz não me traz sentimento de culpa.
Não preciso da tristeza para justificar a inutilidade da vida.


Não preciso morrer e ir ao céu para encontrar a felicidade.
Quero-a e tenho-a neste espaço terreno do aqui e do agora.
A felicidade, tal e qual o amor, está dentro de mim
E transborda em ternuras, em melodias,
em carinhos, em alegrias, em cantos e encantos.

Sou feliz e não preciso me justificar.
Sorrio sem ver passarinho verde.
Não tenho medo de ser feliz.

Faço minha estrela brilhar.
Sem receio dos encontros, desencontros,
encantos e desencantos que o amor me diz.

Contrariedades? Eu as tenho.
E quem não as tem na vida secular ?
Escassez de dinheiro? Nem é bom falar
Amores não correspondidos? Separações?
Rejeições? Saudades incuráveis?
Carinhos reprimidos, ternuras guardadas,
sem a contra parte do outro?
Eu tenho aos montões.
Sou a rainha das perdas, necessárias ao meu crescimento.

Contudo quem não soube a sombra não sabe a luz.
E num livro de matemática existencial
juntei todos esses problemas insolúveis,
com as respostas nas últimas páginas.
Mas pra que me debruçar
sobre eles, procurando a solução
se a própria vida me conduz
a resposta final?

Sem medo de ser feliz vou por aqui e por ali
por onde os caminhos, as trilhas,
Os atalhos me levarem, traçando meu rumo.
Às vezes com alguma tristeza,
mas quem disse que felicidade
é o contrário de tristeza?
Tristeza é só uma momentânea falta de alegria!

É, amigo, amanhã é sempre um novo dia
E quando a infelicidade passar por aqui,
minhas malas estarão prontas
para eu ir por ali.
                                                                                                                   

                                                         Carlos Drummond de Andrade

Por mais difícil que pareça, acredite a felicidade é possível! Porque olhar por um buraco na parede se vc pode sair e olhar o céu?
Talvez a vida seja mais simples do que imaginamos...
Paz e luz!

Judi Menezes

12 de dez. de 2011

As Pontes de Madison




Hoje escutei alguém (uma mulher) dizendo que assistiu ao filme As Pontes de Madison e achou que não passava de uma história de traição vil e banal.
Fiquei refletindo sobre, pois assisti ao filme, faz muito tempo, e a delicadeza das cenas, a magnitude de uma poderosa história de amor, perda e de como certos momentos podem definir uma vida inteira ainda estão presentes na minha lembrança. Até agora ainda estou pensando na leitura feita por essa criatura sobre um filme  sutil, delicado e tão honesto.
"As pontes de Madison" começa com sua protagonista, Francesca Johnson (Meryl Streep, em uma monumental atuação) morta. De herança a seu casal de filhos de meia-idade ela deixa um testamento onde pede para ser cremada e ter suas cinzas jogadas em uma ponte e três cadernos de anotações onde conta uma história mantida a sete chaves dentro de seu coração. Abismados, os dois tem contato, então, com um lado de sua mãe que jamais pensaram que tivesse existido: uma mulher passional, sonhadora e romântica que foi obrigada a deixar seus sentimentos de lado para manter a famíla e o casamento. Nos diários de Francesca, ela conta como, em 1965, durante uma viagem do marido e dos filhos a uma feira rural ela teve um tórrido e devastador romance com Robert Kincaid (Clint Eastwood), fotógrafo da revista National Geographic.
Dona-de-casa com uma frustrada vocação para o magistério - do qual abdicou na Itália para casar-se com um fazendeiro de Iowa - Francesca é uma mulher conformada, que vive para a família, não exatamente carinhosa e atenciosa como ela merece. Sozinha por quatro dias em um fim-de-semana de verão, ela conhece o fotógrafo Robert, de passagem pela região para registrar as pontes cobertas do condado. Sentindo-se imediatamente atraída por ele - e por sua liberdade - Francesca inicia um flerte delicado e sutil com o desconhecido que lhe ressuscita os sonhos de sua juventude. Apaixonados avassaladoramente um pelo outro, eles são obrigados, porém, a encarar a dura realidade que se aproxima com a volta dos Johnson.
Utilizando com esperteza o velho truque do flash-back, o roteirista Richard LaGravenese - que se aventuraria anos mais tarde na carreira de diretor com o também lacrimoso "PS, eu te amo" - manipula os sentimentos do espectador da maneira mais explícita possível, mas é tão honesto em suas intenções que isso acaba contando a seu favor. Graças a diálogos fluentes e às interpretações de seus protagonistas, fica difícil não acreditar no nascente amor entre os dois, duas pessoas aparentemente diferentes mas que mantém acesa (ainda que discretamente) a chama da vida. Talvez justamente por envolver a plateia no romance entre os dois - de forma gradual e delicada, ao som de uma caprichada trilha sonora de Lennie Niehaus - o filme consegue, em seu terço final, baixar a guarda de todo mundo e conduzir a todos a uma jornada à mais profunda tristeza e frustração.
A cena em que Francesca precisa decidir, em questão de segundos, todo o seu futuro, já é destinada a qualquer antologia dos momentos mais arrasadores do cinema romântico americano. Debaixo de uma chuva inclemente e com o marido a seu lado, ela necessita definir sua felicidade, infelicidade ou frustração antes que o sinal verde do semáforo lhe obrigue a deixar de lado o amor maior de sua vida. Na pele de Meryl Streep, a melhor atriz viva do cinema, Francesca deixa de ser apenas uma personagem para tornar-se a plateia em toda a sua extensão. São as lágrimas de Francesca que escorrem pelo rosto do público, em uma catarse coletiva que justifica-se plenamente pela competência assustadora com que Eastwood contou uma história absolutamente simples e sem firulas.

Programa obrigatório para fãs de cinema, fãs de Meryl Streep e fãs de filmes românticos, "As pontes de Madison" é um clássico.E como diz a personagem de Eastwood, essa certeza só se tem uma vez na vida.

Reflitam!!
Paz e luz!!
Judi Menezes